Sunday, December 19, 2010

DORMEACORDADO?!

"Subiu os degraus pequeno, franzino. Pisou no palco. Cresceu. Virou um gigante."
(http://www.twitter.com/nopassodroteiro)
(http://nopassodoroteiro.blogspot.com)

Certa feita, este que vos escreve estava, em mais um dia como outro qualquer, esperando o ônibus na Rua Heitor Penteado. De repente, ao observar o ponto, deparei-me com um papel verde colado na parede, no qual estava escrito o seguinte excerto: "Segundo encontro. Competiam e se irritavam um com o outro. Seria melhor se não tivessem marcado naquele bar de sinuca". No mais, apenas o endereço http://www.twitter.com/nopassodroteiro.
Curioso com a pequena, mas ao mesmo tempo extraordinária e incomum situação, resolvi me informar mais sobre o que vi. E, felizmente, descobri o movimento "No Passo do Roteiro".
Trata-se de uma iniciativa da cineasta e roteirista Laura Guimarães . A ideia é espalhar pela cidade pequenos cartazes coloridos com os chamados "microrroteiros": textos pequenos que, geralmente, descrevem uma situação e sugerem o começo de histórias. Uma vez colados, os cartazes podem ser lidos por qualquer um que os descubra.
Sempre tive um apreço muito grande pela arte de rua. É incrível como uma imagem, uma frase ou uma intervenção podem conduzir aqueles que a contemplam do cotidiano, do corriqueiro, do mundo de ações repetitivas, para o extraordinário, o fantasioso, o inesperado. E muitas vezes os responsáveis são pequenas ações, como um simples cartaz contendo um microrroteiro e que é lido em um ponto de ônibus ou no caminho para o trabalho.
Iniciativas como a do No Passo do Roteiro devem ser elogiadas, nunca minimizadas. Não se trata de poluição visual ou de violações a projetos de limpeza urbana: a questão, aqui, é cultural e artística (e a arte, até onde sabemos, não deve ser censurada).

Friday, December 10, 2010

APLAUSOS PARA O APLAUSO

"O poeta pena quando cai o pano
E o pano cai
Acordes em oferta, cordel em promoção
A Prosa presa em papel de bala
Música rara em liquidação"
(O Teatro Mágico, "Pena")

Nas últimas andanças que fiz pela internet deparei-me com algo que, talvez, não seja novidade para alguns. Porém, penso que, para muitos, isso será uma viagem ao desconhecido.
Trata-se da tão comentada "Coleção Aplauso", editada pela Imprensa Oficial. Até aí, muitos dirão: nada de novo. É a coleção que visa a reunir as obras, biografias e relatos dos maiores ícones da cultura brasileira, como já noticiado à exaustão pela imprensa.
Todavia, o que não costuma ser tão divulgado assim (acreditem) é o que, talvez, torna a coleção ainda mais interessante.
Numa tentativa história de democratizar o acesso ao conteúdo já editado nestas obras, todo o acervo da Coleção Aplauso encontra-se disponível para download gratuito (isso mesmo) em um site criado especialmente pela imprensa oficial (http://www.colecaoaplauso.com.br). Lá é possível encontrar biografias de atores, diretores e escritores, livros que reúnem as histórias de companhias teatrais e de espaços históricos (como o TBC), peças de autores já consagrados na cena teatral (e que até pouco tempo estavam em cartaz), roteiros de filmes, etc. Tudo isso sem qualquer violação de direitos autorais.
Além disso, para os interessados, é possível cadastrar-se no site e receber uma newsletter sobre os lançamentos futuros.
Em um país em que a cultura ainda é subaproveitada - como se ainda não tivéssemos conhecimento do seu poder transformador - e que o incentivo à aquisição de produtos gratuitos (ainda que posteriormente subvencionados) ou é escasso ou, quando existe, não é sequer mencionado, é de se parabenizar, principalmente após a notícia de fechamento de sites como o "Domínio Público", o que está sendo feito com a Coleção Aplauso.
Palmas, por favor.

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PS: Olha o que foi a resposta quando fiz o quiz a respeito de "Que filme do Kubrick você é":

Resultado: Laranja Mecânica

Parabéns! Você é a contradição em pessoa. Gosta de arte e muita violência, um verdadeiro exemplo de esperança em um mundo niilista com um sistema que consegue ser mais violento do que você mesmo; mas no final, você é o único lúcido e curado em uma sociedade totalmente alienada, corrompida e nojenta! Conclusão: "I was cured, all right!"

Friday, December 03, 2010

UM RETORNO ATRAVÉS DO ESPELHO

"Não tem como fazer o mundo parar de girar. A vida não é fácil, é uma só, e o único jeito que a gente tem é enfiar o pé no acelerador e sair vivendo" (Alice)



Último post: 2008. Porém, eis que, após dois anos e muitas reviravoltas dentro de uma Paulicéia mais que desvairada, surge uma vontade maluca de escrever novamente, na esperança de que, talvez, alguém que esteja de passagem por aqui queira parar e perder alguns minutos de sua vida para ler o que tenho a dizer.
Mas, como o passado deve ser atirado ao abismo (assim já dizia Shakespeare), os posts anteriores foram apagados, o visual foi reformulado e, quem sabe, o conteúdo, daqui para a frente, será outro.



"Alice: Um Especial em Duas Partes"



Nos dois últimos sábados, a HBO exibiu, após um hiato de dois anos (assim como esse blog - não estamos tão ruim, portanto), as duas partes do especial sobre a série "Alice", exibida em 2008.
Para aqueles que não conhecem a série ou, como eu, conheciam, mas não assistiram à primeira temporada, "Alice" conta a história de uma jovem que vem do Tocantins para São Paulo apenas com a missão de, a princípio, enterrar seu pai e comprar um edredom barato, mas que é absorvida pelos delírios dessa cidade que parece ter vida própria. Os episódios, cada um intitulado com uma alusão ao livro "Alice no País das Maravilhas", mostram os altos e baixos de de pessoas que procuram se encontrar entre as baladas da Augusta, os teatros da Praça Roosevelt, os cinemas da Paulista, enfim, na imensidão da noite paulistana.
O especial, gravado e veiculado em 2010 no formato de dois telefilmes (a princípio, independentes da série, mas, na verdade, complementares a ela), mostra a personagem dois anos depois de sua chegada, atualmente trabalhando como produtora teatral. O primeiro ("O Primeiro Dia do Resto da Minha Vida") é predominantemente diurno e descritivo: em linguagem mais realista e pausada, procura mostrar onde os personagens estão após esse lapso temporal e qual a relação que ainda existe entre eles. Já o segundo ("A Última Noite") é exatamente o oposto (e nisso reside uma das belezas do especial, entre outras): é noturno (praticamente tudo acontece em uma única noite) e possui uma linguagem mais surrealista e cercada de acontecimentos improváveis, algo como um pesadelo maluco (por exemplo, atender um orelhão no centro, de madrugada, e conversar com um suicida).
Filmados em HD, recheados de imagens espetaculares de São Paulo à noite, e com um elenco e um trabalho de direção sensacionais - a protagonista dispensa apresentações e elogios, como qualquer um já sabe, e os demais atores também são ótimos, sem exceções -, os dois episódios que compõem esse especial fizeram mais do que mostrar uma continuação para a história: eles conseguiram, na realidade, transportar o espectador novamente para o mundo de Alice e deixá-lo com a esperança de que essa história, talvez um dia, estará de volta.



"Satyrianas: Uma Saudação à Primavera"




Ao mesmo tempo que a HBO exibia a segunda parte do especial de Alice no dia 27, São Paulo também era agraciado, mais uma vez, por um dos mais importantes eventos do calendário teatral da cidade: entre os dias 25 a 28 de Novembro ocorreu o festival anual de teatro "Satyrianas: Uma Saudação à Primavera", organizado pela Companhia "Os Satyros" (segue o link, para quem não conhece: http://www.satyros.com.br/).
O festival, que acontece principalmente nos arredores da Praça Roosevelt, no centro - atualmente, um dos pontos mais importantes da cena teatral paulistana -, agrega diversos espaços, entre eles, o Espaço dos Satyros e outros teatros e espaços culturais da cidade (Miniteatro, Espaço Parlapatões, Casa das Rosas, etc.), além de tendas que são construídas especialmente para apresentações, exibições de filmes (por exemplo, os curtas metragens que participaram da última edição do Festival Mix Brasil, sobre a diversidade sexual), exposições, etc. Junte-se a isso, também, o cortejo do diretor José Celso Martinez Correa e do pessoal do teatro Oficina - em homenagem a Dionísio - e o fato de que os ingressos para todas as peças não possuem preço fixo (o espectador paga quanto puder contribuir) para que o evento se torne mais do que especial.
Este ano foi feita uma homenagem o ator, diretor, escritor, jornalista e crítico de teatro Alberto Guzik, que faleceu em 2010 (uma grande perda, diga-se de passagem). Este que vos escreve visitou a Satyrianas no domingo à tarde (ainda que o sábado à noite seja mais legal): assisti três peças da programação - "Casal", "Assento Reservado - Experimento n. 1" e outra peça na tenda "Cena Mix" (é de se elogiar o fato de que o evento é uma ótima oportunidade para vários grupos apresentarem seus trabalhos, coisa que, em situações normais de temperatura e pressão, eles não conseguiriam devido à falta de condições) -, vi o cortejo do Zé Celso (muito bom) e conheci o Miniteatro, espaço que (pasmem), ainda não conhecia. Lamento apenas o fato de não ter conseguido ver "Roberto Zucco", pela falta de ingressos, mas este espetáculo, felizmente, ainda está em cartaz.
A única desvantagem do evento de 2010 (que não foi, na verdade, uma desvantagem, mas um contratempo) foi o fato das tendas não terem sido montadas na própria Praça Roosevelt, devido à reforma do local (algo que, de qualquer forma, é necessário). Porém, isso não foi capaz de tirar o brilhantismo de um festival que, de tão importante, possui até um projeto de lei para ingressar no calendário de eventos oficiais da cidade (e que, de facto, já pode ser considerado como tal).
Esperemos, agora, pela Satyrianas 2011. Enquanto isso, que tal ir ao teatro com frequência?