Thursday, January 20, 2011

EVITANDO A CONTINUAÇÃO DO TOTALITARISMO

"O homem não sabe que tudo é possível"
(Hannah Arendt, As Origens do Totalitarismo)

Em uma postagem anterior, (in?)felizmente apagada, manifestei meu apreço ao cinema nacional, confirmado mais uma vez quando assisti, novamente, a "Anjos do Sol". Porém, sem deixar de ser nacionalista, também ve
jo com bons olhos as produções europeias.
Muito bem cuidados do ponto de vista visual e quanto aos roteiros, porém com uma densidade experimental interessante, os filmes europeus podem não agradar a todos, principalmente aqueles acostumados com as produções norte-americanas que fogem ao estilo "cinema independente". Contudo, os que se interessam por novas experiências irão se surpreender com a qualidade do que é exibido atualmente.
Digo isso porque, nos últimos tempos, dois filmes chamaram a atenção. Eles já saíram de cartaz dos cinemas há tempos e, inclusive, já podem ser encontrados em cartaz na TV a Cabo (a TV aberta, infelizmente, não se interessa por títulos como esses, à exceção da TV Cultura, que está fazendo um ótimo trabalho ao exibir os filmes que foram exibidos na Mostra de Cinema de São Paulo - mas discutir esta iniciativa rende um post inteiro). Trata-se, na verdade, das obras "Les Termoines" e "A Onda".
O primeiro, de origem francesa, passa-se em 1984 e utiliza como base a história de um jovem (Manu) para relatar a origem da AIDS. O filme é dividido conforme as estações do ano, cada uma representando um estágio da evolução da doença do protagonista. É muito interessante analisar como eram tratados os portadores de um vírus até então desconhecido, em um momento no qual não havia muito o que fazer por eles (lembre-se, inclusive, que a AIDS, no início, também foi chamada de "Peste Gay").
Já o segundo, de origem alemã, conta a história, baseada em fatos reais (curiosamente ocorridos nos Estados Unidos), de um professor de Ciência Política de uma escola secundária (Rainer Wegner) que é escolhido para ensinar aos alunos sobre "autocracia". Para tanto, ele propõe aos alunos a criação de um movimento que estaria sob a sua direção: com base nele, instituiu-se qual seria a disposição dos alunos na sala, o vestuário, a saudação, o nome ("A Onda"), etc. Entretanto, essa experiência ultrapassou o ambiente escolar e causou consequências imprevisíveis.
É um filme interessante porque demonstra a facilidade com que os movimentos autocráticos e totalitários, que muitos pensam estarem extintos e reservados apenas a determinados períodos históricos, podem se desenvolver em ambientes democráticos. Além disso, mostra a força de "sedução" que os elementos de propaganda utilizados por esses regimes (roupas, saudações, discursos, encontros, etc.) e por seus líderes carismáticos produzem nos seus seguidores. Enfim, um filme para se pensar e para ajudar a manter acesa a eterna batalha pelas liberdades democráticas.

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Um último adendo: ao que parece, é possível pensar que existe uma leve esperança. Foi aberto o processo de tombamento do Cine Belas Artes pelo Conpresp. Ainda que isso, a princípio, não impeça a saída do cinema do local, pelo menos o processo consegue impedir a alteração do prédio por um tempo. Ou seja, talvez haja uma luz no fim do túnel.

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