Monday, January 10, 2011

A ÚLTIMA DANÇA DO BELAS ARTES


Depois das festividades do Natal e do Ano Novo (a propósito, feliz 2011 para aqueles que acompanham estes escritos), eis que, na primeira semana de Janeiro, surge a notícia: o Cine Belas Artes, ao que tudo indica, fechará as portas para sempre.
Para aqueles que não conhecem o espaço e a sua história, o Belas Artes surgiu nos anos sessenta e, desde àquela época, permanece no mesmo lugar na Rua da Consolação, perto do cruzamento com a Avenida Paulista. Um dos poucos cinemas "de rua" que ainda existem na região, ao lado do Espaço Unibanco, do Reserva Cultural e do extinto Gemini, e tentam competir, a todo custo, com a invasão dos multiplex e sua salas Imax, o Belas Artes possui uma programação diversificada e voltada para diversos gostos, principalmente daqueles que procuram filmes independentes e com vocação conceitual.
Ainda que não tivesse as melhores salas do mundo (observação estranha feita por alguns críticos), o espaço era muito frequentado por pessoas dos mais variados tipos. Lá ainda é (pelo menos antes de fechar) possível ver o belíssimo "Medos Privados em Lugares Públicos". Além disso, os verdadeiros cinéfilos podiam se aventurar no "Noitão", programação mensal de filmes na qual três filmes eram exibidos durante toda a madrugada e ao fim dos quais era servido um café da manhã (ou seja, uma experiência memorável).
Porém, a despeito de tudo isso, os herdeiros do dono do local anunciaram aos proprietários do Belas Artes que desejavam o prédio para, no futuro, instalarem uma loja. Dessa forma, o último rolo será rodado no dia 27 de Janeiro e, mais uma vez, um ícone da cultura paulistana morre para dar lugar ao consumismo desenfreado e à política das ofertas monetárias mais vantajosas.
Ainda que os proprietários não tenham esperança, é importante que pensemos que um possível milagre ocorrerá nos últimos minutos e mostrará uma luz no fim do túnel, nem que seja para noticiar que o Belas Artes continuará em novo local. Não será a mesma coisa (afinal, não se apagam mais de quarenta anos de história de uma hora para a outra), porém, isso pode representar um símbolo de que a resistência ainda sobrevive.
"Ao peso dos impostos, o verso sufoca" (Ferreira Gullar, Agosto 1964).

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Mudando de assunto: sei que já faz um mês que a série acabou, mas, para os curiosos, uma sugestão de acesso no YouTube é "Clandestinos: O Sonho Começou", série inspirada na peça homônima de teatro escrita e dirigida por João Falcão. Para aqueles que não conhecem, aqui vai uma chamada (atenção para a música "Sujeito de Sorte", em sensacional arranjo da banda Vermelho 27):


1 comment:

Sara said...

Que bom que essas coisas sempre podem ser obtidos em diferentes lugares. Internet é agora mais fácil de obter informações sobre filmes e restaurantes, especialmente como páginas Kekanto